ASSOCIAÇÃO SOCIEDADE PROTETORA DOS DESVALIDOS
A SPD luta a 187 anos contra Desigualdade Racial
Quem a vê nas ruas de Luanda não tem como imaginar a importância desta mulher, Lígia Margarida Gomes, o que ela representa para a diáspora africana brasileira. Uma SOCIEDADE fundada em 16 de Setembro de 1832 em Salvador – Bahia, com 187 anos de idade, nascida entre dois confrontos de resistência dos negros levados como escravos para o Brasil, o primeiro deles BUZIOS, ocorrido em 1798 e o segundo MALÊS, ocorrido em 1835, portanto dois anos depois de sua fundação.
A Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), a qual Lígia é presidenta é uma organização civil de homens negros no Brasil, fundada em 16 de setembro de 1832. Sua criação aconteceu depois de algumas reuniões preparatórias entre um grupo de dezoito homens negros, liderados pelo africano livre Manoel Victor Serra. A entidade possuía carácter religioso e tinha o objetivo de auxiliar a comunidade negra e promover a compra de cartas de alforria, ajudando africanos escravizados e seus parentes, a adquirirem liberdade.
Mantém-se ativa até o tempo presente, contando, portanto, mais de 187 anos. No início, se chamou Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos. A partir de 1851, passou a se chamar Sociedade Protetora dos Desvalidos, assumindo características de uma sociedade mutualista, baseada na entreajuda. Quando associados ficavam doentes, desempregados ou familiares destes viessem a falecer, a entidade era acionada como um ponto de apoio. Além disso, tratava-se de um espaço de convivência entre trabalhadores negros livres, que buscavam promoção individual e a oportunidade de um futuro melhor.
Após sua fundação, os membros da organização discutiram a formulação de um termo de compromisso, estabelecendo somente a entrada de indivíduos de cor preta como sócios, critério para admissão de novos sócios conservado até hoje. Naquela época, associações semelhantes surgiam em todo o país em consequência a falta de uma legislação trabalhista e previdenciária que acolhesse estes indivíduos.
A sede está instalada em um prédio próprio no Largo Cruzeiro de São Francisco, número 82, em Salvador, desde 1887.
Turistas que visitam os estabelecimentos da associação podem conferir livros, atas, retratos, e outros registros do tempo da escravidão. No local, pode-se ainda ver e tocar no pilão de moer café (e outros grãos), além de um tacho onde se colocava a comida para o almoço ou jantar coletivo na senzala.
O lema da sociedade é Fraternidade e Caridade.
#### CONTEXTO HISTÓRICO:
Durante a escravidão no Brasil, existiram, para os negros – escravos, alforriados ou livres –, espaços em que mantinham certa liberdade. As irmandades religiosas se encaixavam nessa categoria. Elas surgiram até pela manutenção do sistema escravista, uma vez que era importante

Lema: “Fraternidade e Caridade”
Fundação: 16 de setembro de 1832 (187 anos)
Sede: Salvador, Brasil
Antigo nome: Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos
Sítio oficial: www.spd.org.br
dar certa autonomia aos negros, a fim de que não se revoltassem.
Na época, a coroa portuguesa permitiu a construção de irmandades na colônia para se livrar de cláusulas que a obrigava a construir igrejas e assegurar o culto no Brasil. As irmandades também eram vistas com bons olhos pelos proprietários dos escravos, já que que os brancos não gostavam e não queriam dividir o mesmo espaço de culto com os negros.Para a Igreja Católica, a vantagem era aumentar o número de cristãos da Bahia.
Devido ao aumento no número de associações de socorros mútuos, em 22 de agosto de 1860, foi aprovada a lei nº 1.083, seguida dos decretos nº 2.686 e 2.711, publicados respectivamente em 10 de novembro e 19 de dezembro do mesmo ano.
Um dos objetivos destas normas visava controlar a prática associativa no país, o que muitas vezes ocorria de forma arbitrária. Indivíduos que tinham interesse em constituir uma associação eram submetidos a alguns requisitos legais estabelecidos pelo Império, sob o olhar atento do Conselho de Estado. Também eram barrados a criação de coletivos baseados na auto-identificação racial e/ou de origem africana. Com a chegada da República, no começo da década de 1890, outro conjunto de leis regulamentando essas organizações passou a vigorar, como um reflexo das aspirações de uma nova ordem política. Neste período, surgiram novas formas de controle desses espaços de associação.
Nos anos que precederam a abolição da escravidão, apesar de marcados pelo estigma da cor, membros da Sociedade Protetora dos Desvalidos transformaram a entidade em um ambiente de defesa dos trabalhadores inválidos e desempregados, assim como um lugar privilegiado de sociabilidade. Lá, podiam cultivar uma ampla rede clientelistas, incluindo grandes nomes da política, lideranças de movimentos sociais e outras sociedades semelhantes. Estes homens projetavam naquele ambiente uma oportunidade de ter voz e participação em decisões coletivas.
#### FUNDAÇÃO:
Tudo começou em 1827 quando um grupo de homens negros livres resolveu poupar recursos para situações de emergência. As primeiras reuniões da entidade foram realizadas na Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios, na Freguesia de Santo Antônio Além do

EMAIL: spdesvalidos@yahoo.com.br
TELEFONE: (71) 3322-6913
Carmo. No dia 17 de dezembro de 1848, a sede foi transferida para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário das Portas do Carmo, na ladeira do Pelourinho, sede de outra sociedade religiosa. Contudo, um conflito envolvendo os irmãos de ambas as associações fez com que a Irmandade dos Desvalidos fosse expulsa, em 1848. A sede é transferida para um prédio na Rua do Bispo, número 665, permanecendo até o ano de 1887, quando a Sociedade adquire um imóvel no largo do Cruzeiro de São Francisco, conservado como matriz até hoje.
Manoel Vítor Serra foi o primeiro presidente, chamado de juiz à época. Ele, ao lado de dois membros-fundadores possuíam uma chave. Somente as três chaves abriam, ao mesmo tempo, o cofre onde guardavam os recursos da SPD. O “Cofre das 3 Chaves” existe até dias atuais e é uma das atrações do lugar, visitado por turistas e baianos.
Ao longo do século XIX, irmandades de negros se dividiam tendo como critério a origem dos seus membros. No caso daquelas fundadas por africanos, dividiam-se as irmandades por ‘nações’. Entre a documentação preservada da SPD, não há informações sobre a origem dos fundadores da irmandade – sabe-se somente que são africanos. Não foi, no entanto, o critério da etnia que congregou os primeiros membros da Sociedade, mas sim outro, de caráter religioso. Os fundadores eram negros muçulmanos ou islamizados ou, ainda, maometanos.
A Sociedade Protetora dos Desvalidos destacou-se, dentre as irmandades negras da cidade de Salvador, por abrigar negros adeptos da religião que começou a ganhar corpo entre a comunidade negra na primeira metade do século XIX.
O antropólogo Júlio Santana Braga foi um dos poucos estudiosos a se debruçar sobre a entidade, publicando a única obra específica sobre o tema, resultado de sua dissertação de mestrado, originalmente publicada em 1975. Para ele, a conversão ao catolicismo – exigência para que irmandades negras fossem legitimadas perante o estrato dominante da sociedade – dos membros fundadores da SPD era apenas aparência e feita por conveniência, uma vez que corria nas veias dos seus integrantes sangue islâmico. O fotógrafo e etnólogo Pierre Verger não compartilha da mesma opinião. Segundo ele, os integrantes eram fiéis às duas religiosas com a mesma devoção.
#### ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO
Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel de Bragança assinou a lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil. Ainda antes deste acontecimento, a Sociedade passa a ter uma orientação mais secular, deixando claro que a ênfase era proporcionar segurança social aos seus membros na medida que se tornavam idosos ou enfermos. Na época, a organização supriu uma necessidade real da população, dada a ausência de programas governamentais do tipo.
Na década de 1930, no entanto, o Estado instituiu políticas públicas voltadas a seguridade social. A partir daí, os registros de membros sugerem uma diminuição gradual das novas inscrições. Em 1899, a associação contava com 394 sócios, número que foi progressivamente diminuindo ao longo do tempo. Em 1909, eram 337 membros; em 1923, 243 e, mais recentemente, em 2004 contabilizavam apenas 100.
O padrão dos associados era cíclica; os membros normalmente entraram como homens solteiros aos vinte e poucos anos, e seus filhos seguiam seus passos cerca de vinte e cinco anos depois.
Apesar da adesão reduzida, a entidade já havia assegurado sua viabilidade financeira por meio de investimentos imobiliários comerciais. Nos dias atuais, a SPD preocupa-se com sua capacidade de sobrevivência, pois perdeu sua posição como órgão vital na comunidade afro-baiana. Realiza conferências, seminários, cursos profissionalizantes de curta duração, tendo como público-alvo jovens de comunidades carentes.
Vem aí !
Conforme noticiado pela Presidente Lígia Margarida Gomes, dois importantes projectos coordenados pela SPD – Sociedade Protetora dos Desvalidos já estão em curso com o apoio de importantes parceiros locais e brasileiros, tratam-se do:
– HOJE MENINA, AMANHÃ MULHER, a se iniciar pelo Município do Cazenga – Luanda – Angola;
– CASA DE ACOLHIMENTO E APOIO A ESTUDANTES AFRICANOS – Salvador – Bahia – Brasil
Aniversário de 187 anos
A Sociedade Protetora dos Desvalidos, completou no dia 16 de setembro 187 anos de vida. Uma vida de resistência e luta que muito nos honra, somos filhas e filhos da resistência dos nossos antepassados, que carregam a ancestralidade negra nas veias, nos caminhos e no coração, somos o povo negro que sofre com o racismo estrutural, com as diversas formas de violência mas, resistimos, continuamos de cabeça erguida combatendo todas as formas de desagregação buscando proteger os “Desvalidos contemporâneos”.
Ontem os Desvalidos eram as irmãs e irmãos escravizados, atualizando o conceito concluímos que hoje, Desvalidos é a população negra empurrada para a margem da sociedade, formando a periferia da cidade, desprotegida e jogada a própria sorte, quando lhe são negadas as ferramentas sociais básicas do bem viver.
Associação Protetora dos Desvalidos – SPD, teve seus objetivos impulsionados pela vontade de reafirmar que os negros e negras escravizados, sempre somos resistência, e os objetivos da Revolta dos Búzios, da Revolta dos Malês, da criação da Rosário dos Pretos, dentre outras também estão na mesma linha da SPD, lutar para garantir uma vida digna para as pessoas negras que vieram para o Brasil durante os abusos impetrados pelos colonizadores ou exploradores humanos.
As estrategias podem ter sido diferentes mas, os objetivos eram os mesmos, Resistir e lutar em prol da dignidade humana. Desta forma este ano estamos homenageando as Personalidades negras do seculo XIX. Neste momento revisitamos os alfaiates, os males, os rosarianos para dizer que sim ” nós queremos o poder da cidade”. ” Queremos ela” a cidade de Salvador, a Bahia e vamos continuar lutando por isto.
Convido você e família a vim confraternizar conosco neste momento que é especial.